Conheça o Libreflix, serviço de streaming que segue o conceito de cultura livre

No topo, a Netflix reina sozinha. Abaixo, vêm os outros serviços de streaming no Brasil, brigando pelo interesse do consumidor de filmes e séries, cada vez mais exigente. O mercado mostra que já estamos distantes da época em que ver vídeos no YouTube era a única opção.

Nós já falamos de alguns desses serviços disponíveis no Brasil, lista que aumentou com a Looke e a chegada da Amazon Prime Video ao território nacional. A Globo também acordou e lançou seu serviço próprio, que adianta episódios de suas minisséries. Todos pagos, o que força o consumidor a fazer escolhas na hora de assinar um serviço.

Quer mais? O Facebook planeja entrar nesse mercado, com o seu Watch, por enquanto funcionando apenas nos Estados Unidos. Este ainda não tem política de preço, mas, pelo histórico de Mark Zuckerberg, deve chegar gratuito ao usuário, com inserções de anúncios.

A briga é de cachorro grande, mas no meio dessa crescente oferta surgiu um jovem estudante de engenharia de computação com uma ideia de democratizar o acesso ao conteúdo audiovisual.

O curitibano Guilmour Rossi, de 21 anos, lançou em meados de julho o Libreflix, uma plataforma de streaming gratuita com um conceito baseado na cultura livre. A ideia é distribuir obras sem custos para o consumidor e para o intermediário, sem ferir direitos autorais.

Ele enxergou a necessidade de um canal com esse formato, como opção para as pessoas que querem assistir algum conteúdo sem ter que pagar por ele ou recorrer à pirataria.

A tela de apresentação do Libreflix

O controle do acervo não depende mais de acordos com estúdios, por exemplo. O próprio usuário pode submeter produções audiovisuais à plataforma. Para isso, basta criar uma conta e enviar o arquivo — o que não quer dizer que o filme, curta ou série será adicionado imediatamente. A equipe da Libreflix faz uma pesquisa para ver se não há problema em liberar o título antes de acrescentar ao catálogo. “Se formos avisados que cometemos um erro, removemos a produção imediatamente, como já aconteceu com um documentário de uma produtora brasileira”, diz Rossi.

Quando a produção é sugerida por terceiros e é de livre exibição, segundo Rossi, a relação se resume ao cumprimento da vontade do artista: de que sua obra seja transmitida e apreciada por outras pessoas.

Já em relação aos detentores de direitos autorais, o acordo inclui um formulário ou uma simples conversa pelos canais de divulgação. “Quase metade das produções chega assim, inserida pelos próprios criadores, e o que percebe-se é que eles veem com entusiasmo a ideia da plataforma.”

A Libreflix se compromete a exibir a ficha técnica completa, links para canais oficiais e legendas em outros idiomas. Algumas dessas melhorias estão em fase de implantação.

Expansão para apps

A ideia é expandir seus serviços. Hoje, a plataforma só está disponível em navegadores, mas já há uma versão para Android em teste, feita por um desenvolvedor voluntário. A Libreflix pensa também em criar apps para Chromecast e iOS e uma plataforma baixável e que funciona off-line. “A proposta é que ela possa ser usada em redes locais comunitárias, onde não há qualidade no sinal ou as pessoas não podem pagar por um serviço de banda larga”, diz Rossi.

O que facilitou a adesão do desenvolvedor ao projeto da Libreflix, assim como de tantos outros que participam da criação, foi a opção por código aberto. “Qualquer um pode ver como o programa funciona por dentro e criar novas abordagens.”

Hoje, o principal acervo da Libreflix é de não ficção: os documentários respondem por 75% das obras disponíveis. Do total, 70% são longa-metragens, e o restante se divide entre curtas (20%) e séries (10%). Títulos brasileiros são 25% do acervo.

Cena do documentário Hotel Laide, do acervo do Libreflix

O catálogo conta com 52 produções, mas a fila é grande: 100 obras esperam pela análise de liberação. Rossi já estuda uma forma de agilizar o processo: “Queremos construir maneiras para que os próprios usuários aprovem o conteúdo e editem as informações, assim como acontece em uma Wiki, por exemplo”.

A plataforma já começa a chamar a atenção dos criadores. Os administradores estão à espera do documentário Idioma Desconhecido, do diretor Júnior SQL, um adepto da internet para publicar seus filmes. O lançamento, que vai debater temas da estrutura social e o inconsciente, deverá acontecer primeiro no Libreflix, antes de ser ser lançado oficialmente.

Para crescer, os desenvolvedores da equipe estão pensando em alternativas que suportem a demanda. Hoje, já são 4.000 cadastrados, mas a plataforma não exige login e senha para assistir às produções, apenas para submeter títulos. Já os acessos únicos ultrapassaram a barreira dos 60 mil em um único mês. “Quando se trata de streaming de vídeo, os limites são baixos e logo esbarram no alto custo para manter os servidores. Estamos contornando isso usando tecnologias alternativas como a WebRTC e até mesmo incorporando os vídeos diretamente das grandes plataformas onde o autor também publicou sua obra, como YouTube ou Vimeo.”

Quando questionado sobre se há um objeto de desejo para colocar na plataforma, Rossi é diplomático: “Não sei se há um título ou diretor específico. Penso que contribuir com a cultura livre é o desejo maior. Qualquer diretor ou produtora que se preocupar em distribuir seu filme com uma licença mais permissiva ou de forma gratuita será um objeto de desejo.”

Cena de Metrópolis, clássico de Fritz Lang que pode ser visto na plataforma de streaming

5 documentários indicados pelo criador do Libreflix

  1. A Vida em Um Dia, dirigido por Ridley Scott, reunião de filmagens feitas por várias pessoas ao redor do mundo
  2. Hotel Laide, curta-metragem sobre um antigo hotel social que existiu na cracolândia, em São Paulo
  3. Earthlings, que escancara as crueldades da indústria da carne e de alimentos derivados de animais
  4. Observar e Absorver, do diretor Júnior SQL, sobre Eduardo Marinho, que adotou um estilo de vida alternativo
  5. Freenet?, sobre os rumos da internet